Para mim, o Camboja já ganhou. Pela comida, pelas pessoas, pela simplicidade, pela ruralidade, pela(s) beleza(S) natural(ais). Acho que principalmente pela simplicidade.
Chegamos a Siem Riep depois de 30h de viagem (barco, autocarro, mini-van, carro), que correu bem, não tivessem uns tailandeses tentado nos "roubar" uns trocados na fronteira - drible de eu faço o visto por vocês e vocês não perdem o próximo autocarro para Siem Riep. Acabamos por ser driblados um pouco mais à frente, conscientemente. Pagar um extra para chegarmos mais cedo ao destino era tudo o que queríamos depois de tanta hora na estrada...
À medida que nos embrenhávamos mais e mais no país o ritmo ia claramente mudando: os carros já não andavam como loucos, as bicicletas igualavam em número as motas, as pessoas sorriam um pouco menos mas continuavam de sorriso fácil. O sol escaldava ainda mais e a pobreza era escandalosamente maior. A simplicidade aumentava.
Chegamos à nossa guesthouse sem água quente, com muitos mosquitos mas com um staff sorridente e super amigável. Localizados bem no centro da cidade, rápido percebemos que estávamos numa outra fase da nossa viagem - o Camboja é diferente e nós teríamos que nos adaptar a esta nova realidade. Será que ia ser simples?!
Fizemos as partes turísticas, templos de tuk-tuk, Angkor Wat ao amanhecer, show de dança de apsara (dança tradicional), comemos amok (cozinhado feito em folhas de bananeira) e caril de galinha (o meu favorito até agora foi o da nossa guesthouse, de longe!!! Tão bom que me queimou o céu da boca :)). Fizemos ainda uma visita aos campos de arroz, quintas de lotus e crocodilos e espreitamos o mercado local. Fora do turístico normal, alugamos bicicletas e deixamo-nos levar pela confusão do trânsito da cidade, perdemo-nos pelas estradas de areia, encontramos crianças sorridentes e faladoras.
Turístico ou não, tudo é simples, bonito, autêntico e pobre.
Coincidência ou não, foi em Siem Riep que passámos mais tempo até agora. Era engraçado ver a cara do staff quando perguntávamos pela manhã: "podemos ficar mais uma noite?!".
Depois deixámo-nos levar por um fim-de-semana em Battambang,
a 4h de distância de Siem Riep, é uma antiga cidade colonial francesa, com a sua influência clara - o francês é mais frequente que o inglês, há baguetes em quase todos os carrinhos de comida e nas ementas dos restaurantes.
Simples (olha a novidade!), cheia de crianças, menos turistas, Battambang também tem coisas únicas: Uma caverna de morcegos que ao final do dia saem da sua casa e dão ao céu um misto de pintura e absurdo. Há também um comboio de bambu, que de comboio só tem as linhas e pessoas maravilhosas! O Xim é um exemplo disso, contou-nos que pouco recebe ao trabalhar como professor inglês e física mas que não desiste dos seus alunos. "Nunca!", diz ele. Passa a semana longe de casa, em outra cidade, e o que lhe dá mais satisfação é saber que está a ter impacto positivo nos seus alunos e principalmente por lhes estar a proporcionar o mesmo que um dia ele teve também - acesso ao conhecimento. Muito inspirador, mesmo!
Mergulhamos em Phnom Pehn, depois de uma semana no Camboja. Como capital de um país, é cheia de tudo. Prédios altos, lixo muito lixo, pessoas com pressa, muitas marcas da guerra que arrasou o país até à bem pouco tempo...e um caos organizado à sua própria medida.
Na primeira noite fugimos disto tudo e entramos num shopping - a sensação que tive foi que tinha sido ejectada do Camboja. Parecia que estava no Colombo em Lisboa, mas a praça de alimentação tinha caracteres japoneses (havia ali alguma ligação com o Japão que não tentei entender), mas de resto tudo era igual. Acabamos por matar a vontade de ir ao cinema e experimentamos uma sessão 4D - filme terrível, experiência engraçada!
Nos dias seguintes deixamo-nos levar pelas tristes marcas da guerra civil, com o seu ápice na era dos Khmer Rouge (1974-1979) onde quase 2 milhões de Cambodianos foram assassinados. Fomos visitar a intensa e dolorosa prisão onde os presos eram detidos e torturados, assim como o descampado onde eram enterrados depois de sentenciados à morte por crimes que não tinham cometido.
Vale a pena ler e descobrir um pouco mais desta história que teima em não ser diferente de país para país, de década para década - e infelizmente se repetir sem pudor nem perdão.
Estávamos preparados para Phnom Pehn ser mau, muito pior do que foi na realidade. Mas três dias e estávamos prontos para seguir viagem - já com o visto do Vietnam no bolso. Se passarem por estas bandas, vão ao mercado russo, caminhem pelo rio e deixem-se levar pelas cores das coisas - vale a pena!
É o Vietnam que nos espera agora e eu nem sei bem o que esperar...vou ser certamente surpreendida tal como fui com o Camboja, que já tem um lugar especial no meu coração, simplesmente pela sua simplicidade.